quinta-feira, 17 de abril de 2008

É Ruim mas é Bom!

Antes de mais nada, me apresento.

Sou Eilor de Almeida Marigo, empresário desde 1981 no ramo da eletrônica e desde 1994, na internet.
Fui convidado a participar deste Blog cujo objetivo é expor experiências e opiniões e receber preciosos comentários de você, que está lendo.

Preciosos porque, quando um profissional qualquer abrir a janela de manhã e disser “já sei tudo sobre o meu negócio”, estará no ponto para se aposentar. Portanto, por favor, participe! Não tenho a menor intenção de me aposentar ainda...

Ao pessoal de RH, peço paciência. Claro que muito do que direi aqui pode ser óbvio para vocês e, certamente, é extensamente abordado em seus livros e estudos. No entanto, tentarei colocar uma abordagem mais testemunhal já que os 27 anos de janela me permitem.

O assunto de hoje é o empresário e sua equipe.

Existem perfis interessantes de empresários e seus colaboradores. (parabéns a quem adotou este termo pela primeira vez... em outros textos darei minha opinião sobre isto)

Conheci em todo este período dois tipos de empresários que se distinguem como água e vinho.

CASO A(*):

Um deles, nosso caso A, seleciona para trabalhar em sua equipe:

Pessoas que chegam sempre no horário, tem gênio bom, obedecem a tudo, tem uma grande capacidade de agüentar desaforos, perguntam absolutamente tudo o que não sabem fazer, (as vezes perguntam o que já sabem também) e não discutem ordens. Tem normalmente uma postura humilde, um leve sorriso no rosto, sempre bem arrumadinhos.
O termo que melhor os descreve é: comportados.

É o sonho de consumo entre 9 a cada 10 pequenos empresários brasileiros. (digo brasileiros porque conheço muito pouco o perfil de empresários estrangeiros ok?)

Agora vamos conhecer um pouco deste empresário:

O cara chega de manhã, antes de todo mundo, senta em sua mesa e começa a resolver problemas. Passa na produção corrige cada errinho que encontra, do chão mal esfregado pelo faxineiro até o ajuste do torno CNC (comando numérico computadorizado) que custou a ele uma verdadeira fortuna. Tudo bem que ele não entende nada de eletrônica ou informática, mas certamente é capaz de descobrir as funções do torno bem melhor do que o operador que ele contratou, que é incapaz de apertar um botão sem perguntar para ele como se faz. De passagem, ainda pensa: “ainda bem, senão este cretino me destrói a máquina...”

Normalmente almoça rápidamente pois tem muito o que fazer. No período da tarde paga as contas, vai pessoalmente falar com o gerente do banco, discute com os fornecedores o prazo de entrega das matérias primas, lembra-se que precisa procurar fornecedores melhores quanto tiver tempo, atende as reclamações dos clientes, providencia a emissão de mais talões de nota fiscal, volta para a produção porque a maquina CNC parou de novo, deixa os 5 orçamentos atrasados para fazer à noite ou no fim de semana.

Para quem olha de fora, é um trabalhador incansável.

Ah! e, normalmente, é dono de um veículo S.U.V. bem grandão.

Resumindo, a empresa dele anda quase 100% da forma como ele quer que ande. Nada foge ao seu controle.

Um cara deste se dá bem?
Não se iluda, a resposta é SIM. Ganha dinheiro? SIM. Este é o retrato da pequena empresa BEM sucedida.

Antes de continuar esta análise vamos conhecer o outro caso.


CASO B(*):

Este empresário é um profissional sério mas quase sempre tem um sorriso estampado no rosto.
“Não faz nada o dia inteiro” na opinião de quem olha de fora.
Afinal, querendo falar com ele está sempre disponível. Com dois dias de antecedência você marca tranquilamente uma reunião com ele. Só não dá se for no dia em que ele passa a manhã toda na academia do clube cuidando da saúde.
Raramente desce à produção a não ser para dar uma olhada e bater um papinho com cada um dos funcionários.
Como tem muito tempo livre, seleciona com cuidado seus fornecedores, atende bem os clientes, a pesar de conhecer poucos pessoalmente.

Quando escolhe alguém para trabalhar com ele, (sempre com ele, nunca para ele) procura ver algum brilho no fundo dos olhos do cara. Pergunta que esporte ele pratica, qual sua opinião sobre o andamento do campeonato de futebol, comenta as ultimas notícias do jornal. Tenta descobrir o que faz aquela pessoa se indignar, como ela se comporta em situações de risco. Alias entrevista de seleção por si só já é uma situação de stress, o que torna tudo mais fácil. Pergunta sobre brincadeiras de criança para ver como o cara se comporta em grupo, agride um pouco para ver que tipo de reação obtém e finalmente faz uma medição do nível de humildade da pessoa deixando que ela fale um bom tempo sobre si mesma.

Se a pessoa tiver um gênio suficientemente “Ruim”, porém for saudavelmente humilde, ele contrata.

Esta pessoa se for cutucada reage. Se opera um torno CNC, se orgulha de operar muito bem.
Conhece o manual como a palma da mão, mas gostaria de fazer aquele curso de especialização que a fábrica oferece. É ávida por aprender. Sempre acha (sinceramente) que deveria conhecer mais do que conhece. Quando ensina alguém não deixa de comentar que a pessoa pode aprender muito mais lendo os manuais, já que seu conhecimento sobre a maquina é restrito.

Ao ser pressionado sobre algo que deu errado normalmente tem consciência do que aconteceu, admite o erro, pede desculpas sem problemas e, certamente, já tem a solução planejada (quando não está em execução).

Resolve 95% dos seus problemas. Se acha algo errado reclama. Seja com um subordinado ou com um superior hierárquico. Explica a situação, exige e cobra a solução.

Briga? Ás vezes sim! Afinal, não tem gênio muito “bom”. Nas brincadeiras de criança “quebrava o pau” quando a coisa não ia como ele (ou ela) queria.

E o empresário o que acha disto tudo? O que pensa quando vê uma discussão na produção ou no escritório? Acha ótimo.

As coisas não precisam acontecer exatamente da forma como ele quer, desde que aconteçam. Seus subordinados fazem as coisas do seu próprio jeito que raramente coincidem exatamente com a forma que o empresário faria pessoalmente. Se coincidir entre 60% e 80% está bom demais!

O empresário recusa-se a resolver qualquer assunto que deva ser resolvido por um membro de sua equipe. Não passa por cima da autoridade dos outros de jeito nenhum! Se for obrigado a isto, procura depois o subordinado, pede desculpas se for o caso, explica a situação que se apresentou, a decisão que tomou em seu lugar para que ele possa retomar a condução do problema daí para a frente.

Quase nunca ele é visto dando uma bronca. Quando acontece é dada em particular, em sua sala e em voz baixa. Mas, acredite, é muito pior que a do caso “A” pois vem acompanhada de fatos, dados e estatísticas, que comprovam, lá no fundo, que você tomou um baita “frango”. Quem dá a bronca em você é você mesmo.

Resumindo, a empresa dele anda quase 100% da forma como ele quer que ande. Ou seja, ele controla um pequeno conjunto de parâmetros e tem pessoas em quem confia que controlam todo o resto. Tudo foge ao seu controle, exceto os resultados e as diretrizes principais.

Ah! mas não se engane... O fato de controlar pouca coisa está muito longe de significar que ele saiba pouco. Naqueles passeios, cafezinhos, bate papos e relatórios ele se torna, com certeza, o cara mais bem informado da empresa. Muitas vezes informa a um gerente sobre algo que ele vai receber no relatório do dia seguinte...

Volta para casa, no horário, com seu carro de passeio luxuoso mas, nem sempre do ano.

Um cara deste se dá bem?
Não se iluda, a resposta é SIM. Ganha dinheiro? SIM. Este é o retrato da GRANDE empresa BEM sucedida.

Agora, porque??? O que impede o caso “A” de crescer até o tamanho do caso “B”?

O tamanho das cabeças.

No caso “A”, todas as decisões são tomadas por uma única cabeça pensante. Os outros não podem pensar, só obedecer.

Conclusão, a empresa cresce até o tamanho da cabeça do dono.

E não há uma cabeça humana capaz de controlar todo um processo decisório de uma grande empresa.

Daí os orçamentos começam a atrasar, as entregas falham e a empresa diminui se “auto-regulando” pelo tamanho da cabeça do dono.

Vocês não têm idéia de quantas vezes eu ouvi a frase: “Vou ficar com a empresa assim mesmo, cada vez que eu tento crescer contrato tanta gente incompetente que quase quebro.”

No caso “B” o empresário abre mão de ter as coisas feitas exatamente como quer, admite outras personalidades e outros jeitos de fazer no processo decisório mas divide as tarefas de modo que sua tarefa é apenas controlar a ponta da pirâmide, e ser muito, mas muito bem informado sobre o resto.

Finalizando,

Fui, durante muitos anos um exemplo típico do caso “A”. Portanto vai aí uma dica a mais para meus ex-coleguinhas de caso “A”...

Se você quiser mudar de “A” para “B”.

- Entenda que o funcionário que você considera de “Genio Ruim”, É ruim mas é bom!

- Mude sua cabeça primeiro. Você está mais errado(a) que a sua equipe, que, por ter sido selecionada por você, possivelmente também não é a ideal. Tente uma terapia por exemplo, costuma funcionar.

- Lamento informar, mas as pessoas “rebeldes” da sua empresa provavelmente serão mais adequadas na futura configuração do que as boazinhas. Se você não consegue conviver bem com elas, reforce a terapia...

- Se você leu as frases acima e achou válidas, apesar de ter ficado meio “sentido” ao ouvir isto, tudo bem.

- Porém se você ficou muito bravo e achou tudo isto “um-monte-de-besteiras-de-um-cara-que-não-sabe-o-que-está-falando-e-muito-menos-o-que-é-realmente-dirigir-uma-empresa-neste-país” considere seriamente a possibilidade de permanecer com sua empresa do tamanho que ela é hoje.

A todos:

Adoraria ter uma estatística de “caso A” x “caso B”.
Quem puder por favor clique no link a seguir e coloque seu voto. O sistema mostra o resultado na hora e apenas 1 voto por computador é registrado.

Clique aqui para votar.

Um grande abraço e obrigado pela paciência.

Eilor


(*) termo em português que significa “case” :-)

Marcadores: , , , , , , , ,

0 Comentários:

Postar um comentário

Assinar Postar comentários [Atom]

<< Página inicial