terça-feira, 23 de março de 2010

É só o Sócio

Negócios em sociedade. Este foi um assunto que guardei com carinho para aprender MUITO antes de escrever a respeito. Também esperei a hora certa para escrever e hoje, dados acontecimentos recentes, não apenas da minha experiência, mas também de outros, resolvi que era hora.

Sociedade nos negócios, principalmente a que envolve poucos sócios, não tem absolutamente nada de diferente de qualquer outro relacionamento. Por sinal, já percebi que nenhum relacionamento, seja no mundo dos negócios ou fora dele, tem nada de diferente. O que muda são os objetivos comuns.

Num relacionamento amoroso temos objetivos comuns como compartilhar sentimentos, proteção, trocar carinho, respeito, reprodução, experimentar emoções e por aí afora. Num relacionamento de amizade falamos de cumplicidade, compaixão, troca de interesses, coleguismo, respeito, sinceridade, confiança, etc.
Nos relacionamentos profissionais, aí incluo a sociedade empresarial, os objetivos são de sucesso comum, financeiros, de participação, troca de interesses, auxílio mútuo, respeito, aprendizado, confiança, ainda dentre tantos outros.

Para quem é mais perspicaz, a resposta para minha próxima pergunta já está na ponta da língua: Qual é o elo de todas as formas de relacionamento?

Respeito.

Afirmo isso com toda certeza, pois não há sociedade profissional nem pessoal se não houver respeito. Aprendemos isso desde pequenos. Você nunca seria amigo(a), namorado(a) ou sócio(a) do seu pior inimigo. E alguém só se torna um inimigo quando se perde o respeito.

Sem respeito não há laços de interesses, sinceridade, auxílio mútuo, muito menos a tal da confiança.

E é exatamente nessa tecla que todos batemos quando no deparamos com problemas em sociedade: Será que posso mesmo confiar nesse cara?

Não que obrigatoriamente desconfiemos da índole do outro. Mas existem diversas coisas que podem sofrer desconfiança, como as capacidades, o potencial, o esforço, arbitrariedade, julgamento, etc, etc, etc...

Até este ponto meu texto é morno. Todo mundo um dia já falou sobre isso e chegou à esta mesma conclusão. E vocês devem estar desconfiados de mim, pensando: “O que esse cara quer me dizer com tudo isso?”

Quero dizer que só existe um meio de conquistar a confiança do outro: Comunicação. Para mim todo contrato de sociedade devia ter obrigatoriamente a seguinte cláusula:

Da troca de informações:
Fica acordado que toda e qualquer INFORMAÇÃO deve ser trocada entre as PARTES, em quaisquer circunstâncias, antes ou depois das decisões, sendo que o descumprimento da cláusula gera multa de valor acordado calculado em UFIR, a cada transgressão de uma das PARTES.

SIM! Sonho com a multa em dinheiro para quem deixar de trocar informação com a outra parte numa sociedade.

E que fique bem claro que estou falando de INFORMAÇÃO! Não falo de decisão conjunta, de divisão justa de trabalho ou nada disso. Isso também é importante, mas não obrigatoriamente atrapalha uma sociedade. O que acaba com ela é a falta de informação.

Ouvi de algumas pessoas o seguinte conselho quando optei pelo empresariado: “Em sociedade, qualquer decisão tem que ser tomada em conjunto!”

ERRADO!

Decisões serão tomadas individualmente o tempo todo. Não há nada de errado em tomar algumas decisões sem consultar seu sócio, afinal, se o trabalho não for dividido e cada um cuidar de partes diferentes vocês não estarão somando cérebros, mas colocando-os para digladiar e ficar loucos. Mais ou menos como dirigir um carro com o motorista e o passageiro com a mão no volante.

Tocar uma sociedade sem confiar de verdade nas decisões do outro não dá pé.

Porém, apesar de ser óbvio que você não deve fazer sociedade com alguém que possui índole questionável, dado o fator primordial da confiança, com certeza vocês passarão pela maioria das outras desconfianças de uma sociedade recente até atingir a maturidade da confiança. Por exemplo: “Será que ele é bom mesmo?”, “Será que estamos fazendo tudo certo?”, “Será que ele me acha bom?”, “Será que posso confiar totalmente no julgamento dele?”... e por aí vai.

Tudo isso é natural e não há problema nenhum nestes questionamentos.

Se você tiver qualquer uma dessas dúvidas e não questionar seu sócio a respeito, nem ele se lembrar de saná-la, então nunca chegarão ao “estado de arte” da sociedade:
Quando você passa a confiar o futuro da sua empresa à soma das capacidades sua e do sócio em administrá-la.

Isso por que a confiança está totalmente relacionada às atitudes das pessoas e se você não conseguir perceber quais serão as atitudes do seu sócio em relação a você e ao negócio, ou se não conseguirem alinhá-las, não haverá confiança nas capacidades dele.

Ainda por outro lado, se você não souber qual é a percepção que seu sócio possui das suas atitudes, sempre ficará desconfiado se está fazendo um bom trabalho aos olhos dele. Sim, há insegurança neste caso e pode acontecer de você se retrair na hora de tomar decisões por sentir-se desconfortável com elas.

Isso por que ninguém é sócio de alguma coisa pela qual não possa tomar decisões ou ao menos participar delas. Para acreditar numa sociedade é preciso se sentir também no comando e sem informações é impossível comandar qualquer coisa.

Por exemplo:
Se seu sócio fizer uma jogada de mestre e tomar uma atitude excelente para os negócios sem te consultar, você não ficará chateado. Mas pode desconfiar de algo caso que sabendo por outra pessoa.
Por outro lado se ele fizer uma tremenda bobagem, ou simplesmente algo que você não concordaria, sem te consultar e deixar de contar para você... Aí o bicho pega.

E pega mesmo! É numa hora dessas que a sociedade pode ir por água abaixo, já que todas as dúvidas que você carrega sobre o trabalho de vocês serão respondidas com um tremendo “não”!

Aí você pode pensar: Ele errou, desconfiou que eu não entenderia, pensou que não saberia ajudar e escondeu de mim. Como vou confiar em alguém que toma decisões e as esconde de mim?

Você não confiará.

Isso por que os relacionamentos profissionais se perdem ainda mais fácil do que os pessoais. Pois aqueles dependem ainda de laços de sangue, afetivos, da cumplicidade, entre outros. O relacionamento profissional depende muito mais da tal da confiança.

Para concluir afirmo novamente que a chave do sucesso para uma sociedade duradoura está na troca de informações, sugestões e opiniões. Estas são as bases de toda a confiança nos negócios.

Não é preciso estar junto para tomar cada decisão, mas antes, ou mesmo depois de tomá-las, consulte seu sócio. Fale com ele sobre as decisões, quais foram e por quais motivos.

É bom lembrar que uma sociedade é realmente uma sociedade no sentido amplo da palavra. Pertence a mais de um, então deve ser tratada de maneira social e todos devem ter o direito de saber para onde vai e como.

É um pequeno espaço de democracia. E tendo ela sócios majoritários ou não, se alguém não estiver por dentro do que acontece, pode ter certeza que seu interesse em estar nela será temporário. Você não deposita nada em algo que não conhece, seja uma empresa ou um sócio. E só existe um jeito de encontrar essa sintonia: Respeito.

Respeitar as opiniões,
Respeitar as ordens,
Respeitar as decisões,
Respeitar as expectativas,
Respeitar as divisões,
Respeitar os medos,
Etc.

E para isso é preciso conhecer cada um desses pontos em seu(s) sócio(s).

Consulte-os e informe-os.

Pois é possível ter uma empresa com diversas cabeças pensantes, mas é impossível adivinhar o que se passa dentro delas.

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