quarta-feira, 30 de julho de 2008

As Decisões Femininas

Estive lendo esses dias um texto da Anna Fels, na Harvard Business Review, sobre o posicionamento das mulheres no mercado de trabalho e, por conseqüência, sobre os efeitos na sua vida pessoal.

Já faz algum tempo que procuro uma forma não machista de tocar no assunto, já que por ser do sexo oposto falar sobre o assunto torna-se extremamente delicado. Mas sendo isso um Blog e tendo como função básica ser um espaço para colocar opiniões e questionamentos, decidi fazê-lo.

Pelo fato desse assunto ser, por si só, um tabu faz parecer que algo já começa errado, afinal por que temos que ser cheios de dedos para discutir a atuação feminina no trabalho?

Acredito que as empresas ganharam muito com a entrada das mulheres no mercado de trabalho em relação a aspectos muito atuais, tais como a humanização das corporações, o desenvolvimento de novos modelos de gestão de funcionários, priorização dos aspectos humanos, dentre outros tantos benefícios.

Para mim esta nova face das corporações, com aspectos mais humanos, menos tangíveis e sua preocupação para com o contato com os clientes representa a cara da mulher no mercado de trabalho.

Explico. Não é novidade encontrar mulheres no ambiente de trabalho, isso todos sabemos e podemos ver até mesmo nos filmes da época da vovó, onde o figurão tinha uma secretária bonitinha, com jeito de boneca. Porém a ascensão feminina aos altos cargos em empresas das mais diferentes áreas é algo relativamente recente, digamos que tenha ganhado evidência nas últimas duas ou três décadas.

Do meu ponto de vista esta ascensão esteve diretamente ligada à necessidade das empresas de se tornarem mais humanas. A capacidade de conhecer as pessoas e de enxergar horizontes muito amplos nas questões de relacionamento com clientes e empregados (que inclusive se tornaram colaboradores) trouxe ao mundo focado e centralizado dos negócios masculinos a possibilidade de evoluir e alcançar maior eficiência na relação com as pessoas, seja o público interno ou externo.

Foi neste momento, quando estas corporações viram que seus produtos começavam a perder espaço para concorrentes menores que ofereciam artigos personalizados ou para grandes marcas que investiram em sua imagem, que o mercado iniciou uma busca incansável por algo que parecia impossível para uma simples e repetitiva fábrica de jeans: o diferencial.

Não vou abordar os motivos dessas mudanças profundamente, já que temos tantos livros e tantos autores escrevendo sobre a Internet, a ampliação dos mercados, os investimentos multinacionais, dentre tantos outros. Mas vamos focar na entrada da mulher no mercado, o que, para mim, foi um dos fatores chave encontrado pelas empresas para acompanhar todas essas mudanças.

Não tiro o mérito feminino nisso de forma alguma, pois elas entraram no mercado pela porta da frente e assumiram cargos como diretorias de Recursos Humanos e Marketing, coordenadoria de áreas de Eventos e quantas não se tornaram empresárias de sucesso! Mas o fato é que, não importa o sexo, estar no lugar certo e na hora certa é muito importante para quem consegue enxergar boas oportunidades e acredito que nesse ponto as mulheres escolheram o momento exato para pular de cabeça no mercado de trabalho.

As empresas estavam desesperadas e não conseguiam entender como seria possível conseguir controlar funcionários cada vez mais qualificados sem criar milícias em prol de melhores condições e maiores salários dentro de suas próprias baias, ou desenvolver estratégias de marketing para tantos públicos diferentes de uma vez, incluindo pessoas do outro lado do mundo. E foi aí que o poder organizador e multifuncional das mulheres entrou em ação, subjugando a centralização e a síntese masculina em muitas das decisões dentro das empresas.

É neste ponto que vejo a mulher como a verdadeira ponte para as empresas do século XX na migração para o século XXI. Não como substitutas das funções dos homens, nem mesmo como um concorrente, mas como alguém que chegou para organizar este mundo todo diferente que se desenha ainda hoje perante as organizações.

Cuidar sempre foi o verbo feminino, assim como conquistar é o masculino. E não vejo como uma afronta dizer que as mulheres sabem muito bem administrar grandes mudanças, assim como faziam e ainda fazem na criação e educação das crianças, sejam elas filhos, clientes ou equipes de trabalho que fervilham de informações, questionamentos, novas opiniões, desejos e, principalmente, medo do novo.

E, para mim, este foi o marco nas mudanças deste século dentro das empresas masculinizadas, com suas visões objetivas e focadas na produtividade.

De um lado estão estas empresas que necessitam de profissionais com visão horizontal para dividir e organizar esse mundo de informações que o planeta terra se tornou. (Para entender melhor, olhe para o organograma da sua empresa hoje e compare com outro de 3 anos atrás). Do outro, as mulheres sedentas pela emancipação cultural, profissional e financeira estavam no lugar e na hora certa, com a faca e o queijo nas mãos! E a junção dessas duas frentes deu tão certo que, inicialmente, elas entraram no mercado causando pavor nos homens, que no íntimo sentiam-se ameaçados.

Mas tudo foi uma necessidade tão natural do mercado deste século, que hoje tenho a absoluta certeza de que vamos atingir um equilíbrio óbvio entre a visão horizontal da mulher e a força vertical do homem sem maiores conflitos, não com a função de substituir o pensamento masculino pelo feminino, mas para acrescentar características essenciais ao mundo num momento muito oportuno.

Em contrapartida, voltando ao texto da Anna Fels, discordo em grande parte dele, pois trata-se de mais um manual que explica por “A” mais “B” que as mulheres não devem se sentir culpadas por se tornarem executivas e marginalizarem a vida pessoal, já que esta foi uma conquista de sua emancipação.
Vou colocar aqui uma passagem dele, intitulado “Falta Ambição às Mulheres?”, que gostaria de questionar: “Para serem vistas como femininas, as mulheres negam seu lado ambicioso, abrem mão do próprio reconhecimento e, pior ainda, abandonam seus sonhos”.

E quem foi que definiu que a vida feminina ou masculina agora tem que se resumir a uma reciclagem da geração yuppie, buscando satisfação profissional e o primeiro milhão acima de tudo e de todos?

Acredito sinceramente que as mulheres conquistaram algo importante no último século, que vai além do direito de escolha: a igualdade de opiniões, ou seja, respeito.

Vejo atualmente tantas mulheres se constrangendo na frente dos colegas para dizer que decidiram largar o emprego, trabalhar meio período ou abrir um pequeno negócio para ter mais tempo para a casa e para os filhos. Cheguei a presenciar um grupo de mulheres fazendo troça sobre a maternidade, dizendo que filho toma muito tempo e dá trabalho, caçoando mulheres que se dedicam ao lar. Será mesmo necessário tudo isso para mostrar que a mulher não é mais a boneca dos filmes da vovó, afinal estamos falando sobre direito de escolha, certo?

Este para mim é um dos principais conflitos, não apenas da mulher moderna mas do casal, que reluta em acreditar que cuidar da casa é uma opção viável já que existe a opção de trabalhar exaustivamente e isso parece mais correto.

Neste sentido, quando sou questionado a respeito, minha resposta é: Você deve fazer o que te deixa feliz. Se ter um filho é a realização da sua vida, o parceiro ou a parceira devem apoiar, como um casal verdadeiro deve apoiar os desejos um do outro.

Quando minha namorada me questionou se me sentiria decepcionado se ela resolvesse parar de trabalhar quando tivéssemos nossos filhos, minha resposta foi a mesma. Disse que como parceiro a apoiarei seja lá qual for sua decisão. E ainda digo que se o desejo dela for, por exemplo, abrir um negócio próprio para poder ter mais tempo para os filhos, a ajudaria a fazê-lo com muito orgulho, da mesma forma que sentiria orgulhoso se ela decidisse se tornar uma executiva de sucesso para o resto da vida.

Por acaso alguém se oporia ao parceiro se ele escolhesse dedicar mais tempo à família? Seria um tanto estranho acredito eu, não importa o sexo.

Por fim, acredito que as conquistas das mulheres foram mais um passo importante na busca pela igualdade dos sexos e que a única coisa que realmente vale a pena apostar nessa vida é na busca por objetivos que nos tornem melhores e mais felizes.

E, às mulheres, parabéns por suas conquistas que se mostram mais uma das grandes e boas revoluções da humanidade. Pois toda mudança faz diferença nas nossas vidas, mas as mudanças que são realmente importantes fazem a diferença também na vida das outras pessoas.

4 Comentários:

Blogger Eilor.A.Marigo disse...

Tenho certeza que uma visão mais equilibrada sobre mulheres e homens trabalhando juntos, e NÃO estou me referindo apenas ao ambiente profissional, mas sim a todas as atividades, produziria um resultado menos tenso e conturbado para a toda a sociedade.

É um absurdo homens desprezarem o trabalho de mulheres que preferem cuidar da família em vez de trabalhar fora.

É outro absurdo mulheres desprezarem homens que preferem cuidar de casa enquanto elas trabalham fora. (conheço vários casais assim perfeitamente felizes, fora o preconceito que sofrem)

Agora, é uma BARBARIDADE mulheres desprezarem outras mulheres porque elas preferem cuidar de casa e dos filhos ou homens acharem outros homens menos másculos pelo mesmo motivo.

Concordo em discordar (!?) da Anna Fels. Não acho que as mulheres devem se sentir culpadas por marginalizarem sua vida pessoal em favor da sua ascenção profissional. Acho que as mulheres E OS HOMENS devem se sentir culpados por marginalizarem sua vida pessoal em favor de sua ascenção profissional.

AMBOS devem procurar o sucesso profissional como um casal e não como 2 seres isolados otimizando o relacionamento, ambição, estudos, trabalho arduo, filhos, casa, etc., dividindo estas tarefas da forma mais comoda caso a caso.
E que os 2 façam seu primeiro milhão (se isto é mesmo tão importante) como uma equipe, tanto faz quem cuide da casa, da empresa de fazer o relatório ou lavar a louça.

Será um casal rico, feliz, com filhos equilibrados. Não importa qual dos dois é o diretor da multinacional ou corrige a lição de casa dos filhos.

Aliás, este conceito que a empresa ocupa 120% do tempo disponível de um profissional de sucesso é muito válido... para a empresa.

Visões mais equilibradas e menos preconceituosas... a humanidade agradece!

(Parabéns, seu melhor texto até agora)

quinta-feira, 31 julho, 2008  
Blogger Unknown disse...

Obrigado!
E obrigado pela respota também. Nada a acrescentar.
Abraço!

sábado, 02 agosto, 2008  
Blogger Tatiana Marigo disse...

Achei muito elucidativo o texto, pois nunca tinha ouvido a opinião "da empresa" em relação à mulher. Como mulher, sempre pensei ou estudei a situação e o ponto de vista das mulheres. Pensei nas vantagens que elas trariam às empresas, mas nunca pensei nas mudanças, no que isso significava para as empresas, pela visão de um homem. A impressão que eu sempre tive é de que a mulher veio para mudar ou acrescentar algo nas empresas e esse ponto de vista me confirmou isso. Porém, tenho a impressão de que esse não é o lugar natural das mulheres. Ou, pelo menos, que elas estão caminhando para uma radicalização do papel da mulher nas empresas. Parece que vamos sair de um extremo da ponta, chegar à outro e parar num meio termo. Natural, como todo processo grande de mudança. Mas acho que esse meio termo é darmos nossa contribuição para a empresa, mas não queremos ganhar um milhão ou não deixarmos de ter nossos filhos por causa do trabalho. Isso será a maioria, sempre têm suas excessões. A conclusão que eu cheguei, estudando sobre isso, é de que as mulheres estão "perdidas", com seu papel na sociedade mal definido. É a impressão que eu tenho. Tanto que, a maior parte dos preconceitos sobre a mulher trabalhar vêem delas mesmas. É uam defesa. Acho que o papel da mulher mudou. Aliás, a sociedade em geral está mudando muito. Principalmente a família e isso tem muita influência pela mulher ter ido trabalhar fora. Enfim, é um ciclo. Mas acho que vamos chegar a um meio termo daqui há uns anos e tudo vai se reestruturar. São processos de mudança. Todos ficam perdidos porque estão todos envolvidos, mas, uma hora ou outra nos achamos.

quinta-feira, 21 agosto, 2008  
Blogger Unknown disse...

Oi Tati, obrigado!
Esta visão é muito pessoal e não diria que se trata de uma "visão das empresas" obrigatóriamente.
Também concordo que alcançaremos um equilíbrio em relação a todas essas mudanças. Ao gestores resta tomar muito cuidade para que o barco não balance demais até lá!
E por se tratar de uma relação homem x mulher, a premissa de sucesso é uma só: respeito.

Abraço!

sexta-feira, 22 agosto, 2008  

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