sexta-feira, 30 de maio de 2008

A Estratégia da Mão na Massa

Nada melhor do que voltar de um longo tempo longe do Blog em tom de desafio!

Nesse texto exponho uma visão muito pessoal sobre o futuro do famigerado “perfil profissional”, de que tanto se fala nesse mundo onde aparentemente apenas os indivíduos mais estratégicos terão destaque nas empresas.

A estratégia despontou como a principal característica das empresas modernas, virou um objetivo e ganhou até uma versão filosófica e menos agressiva de seu significado original, surgido nas guerras: o Pensamento Estratégico.

Para entender um pouco melhor essa corrida em busca do pensamento estratégico, é preciso compreender por que o mundo marginalizou a corrida pela excelência em produtividade iniciada com a revolução industrial para focar seus esforços no advento de estratégias que proporcionam às empresas, por exemplo, se diferenciar de seus concorrentes. E como isso influencia o desenvolvimento dos profissionais por todo o globo?

Durante a última década ocorreram inúmeros eventos incríveis que podem ser apontados como causadores do que Thomas Friedman chamou de “achatamento do mundo”, em seu livro “The world is flat”. Um processo que pode ser traduzido como o segundo desmantelamento das barreiras geográficas, depois do desenvolvimento dos meios de transporte, com a invenção do motor à vapor.
Nesta segunda fase o desenvolvimento se deu na área da comunicação humana, e foi essencial para atingir um novo patamar de competição no mundo dos negócios com a famosa globalização.

Com a melhora exponencial na capacidade de se comunicar não apenas dentro de uma cidade ou país por todo o globo, somado ao enorme desenvolvimento tecnológico que a troca de informações proporcionou, em poucas décadas empresas nacionais passaram a competir com indústrias internacionais instaladas do outro lado do mundo, com produtos melhores e piores, mais caros ou mais baratos, com mais ou menos atrativos e com maior ou menor aceitação de um novo mercado: o mundo.

Não demorou muito para que os profissionais notassem que suas funções também começaram a se achatar, tal qual a distância entre sua empresa e seus concorrentes. As empresas gradualmente tornaram-se lineares, com menos processos, informações mais acessíveis tanto ao público interno quanto externo e níveis hierárquicos, portfólios e sistemas mais enxutos. Os cargos podiam ser substituídos por prestações de serviço e a concorrência também aumentou com a diminuição das fronteiras da comunicação.

Atualmente passamos pelo processo de digestão de todas estas transformações ocorridas desde o final do século XX. Neste momento todos se sentem (e estão) perdidos, com tantas mudanças, quando a globalização gerou a torre de babel das informações ao mesmo tempo em que pasteurizou processos e produtos. A alternativa mais viável para garantir a sobrevivência das empresas a esta planificação foi opor o efeito equalizador da planificação. Ou seja, introduzir características próprias em seus produtos e serviços, personalizar marcas, melhorar o design. Recriar a diversidade.

Durante esse tempo, com a espetacular expansão do acesso à informação de todos os tipos, muitos foram os confrontos culturais (não apenas políticos, religiosos e sociais) que apareceram também para estremecer os modelos de gestão das nações, de grupos religiosos, da família e também das empresas.

Para se diferenciar, havia uma única meta a ser atingida: Sair do processual e tornar-se estratégico!

Muito se fala a respeito do pensamento estratégico, da fortificação das marcas através da preocupação com a imagem corporativa e da necessidade (e dificuldade também) das empresas em falar a língua de seus clientes. Nesse rastro de mudanças, viu-se importante mudar os rumos, ampliar horizontes não apenas em relação aos produtos e ao marketing, mas também aos modelos de gestão de todas as áreas da empresa.

Esta mudanças me parecem naturais, já que muitas cabeças pensando juntas eram necessárias para organizar toda a informação disponível, porém a sobreposição do pensamento executivo pelo pensamento estratégico não pode durar para sempre.

Esta semana ocorreram diversas mudanças na empresa onde trabalho, incluindo a entrada de um novo diretor na área de marketing, que parece extremamente focado no ROI (Retorno sobre o investimento) e muito alinhado com as expectativas do mercado global. Porém uma de suas crenças que mais chamou minha atenção durante seu discurso inaugural foi:

“O futuro profissional de marketing deve ser alguém com muito embasamento e cultura analítica [...] pois os dados falam muito, desde que sejam corretamente "torturados". É preciso amassar muito barro, analisar diversos dados e fazer [executar] muito para ser [se tornar] um bom estrategista”.

E esse era exatamente o ponto que queria chegar quando iniciei este texto, há alguns dias. Será que após toda essa digestão da “sopa de letrinhas” das informações que se tornou o ambiente corporativo, o futuro ainda será apenas das cabeças estratégicas?

Acredito sinceramente que em alguns anos veremos pessoas visionárias voltando a “amassar barro” para adquirir conhecimento técnico, botando a mão na massa para aprender o que fazer com toda essa informação recém adquirida e organizada. Se diferenciando dos outros “seres estratégicos”.

Após a tempestade que se iniciou no final do século XX e que só deve acalmar na próxima década do século XXI, procuraremos um equilíbrio preciso entre o estratégico e o executivo, criando um relacionamento mais saudável entre empresas e profissionais.

Por isso digo que é hora de uma nova postura: A de fundamentar todos esses modelos de gestão do novíssimo e maravilhoso mercado global, colocando antes a mão na massa para entender sobre o que estamos falando quando pensamos estrategicamente.