sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Boas decisões são tomadas em silêncio

Todos já ouvimos falar de “estratégias para aumentar a criatividade da sua equipe”. Essas coisas pipocam por aí como uma espécie de catálogo de auto-ajuda do mundo dos negócios.

Invariavelmente a “produção de criatividade” passa por cinco etapas semelhantes em todos os volumes dessa biblioteca:

1-) Brefing (ou Análise do Problema)
2-) Estudo de Mercado (ou Análise da Situação)
3-) Brain Storm (ou Toró de Parpite)
4-) Filtragem (ou Seleção de idéias)
5-) Execução

Pois bem.
Em uma empresa ou equipe de “alta performance” todos esses pontos são executados com atenção. Porém como explicar a existência de pessoas como Bill Gates ou Steve Jobs, que aparentemente se trancar num estúdio e surgem com idéias maravilhosas, capazes de mudar o mundo?

Se for preciso atribuir a genialidade dessas pessoas absolutamente criativas a um ponto principal entre as cinco regras da criatividade, a qual ponto atribuiríamos?

2-) Estudo de Mercado

A capacidade das pessoas altamente criativas não está em raciocinar rapidamente ou ter um número de idéias maior que qualquer outra. A verdadeira chave está em perceber e saber aproveitar o silêncio que o mercado faz quando uma pergunta não tem solução.

Escutar é o fator mais importante da tomada de decisão.

Isso vem ainda da pré-história, quando nossos ancestrais faziam silêncio absoluto ao escutar um barulho próximo (fazemos até hoje!). Nestes segundos preciosos de silêncio o cérebro torna-se absolutamente objetivo, amplia consideravelmente a percepção dos sentidos, identifica o local de origem do problema e, o mais importante, processa todas as alternativas possíveis para escapar do ataque de um possível predador.

Assim como um cérebro que não pode bobear em frente a um predador, pessoas criativas não investem a maior parte do seu tempo raciocinando ou tentando executar diversas idéias. Elas gastam muito tempo em silêncio, observando o mercado, conversando com pessoas chave e escutando as reclamações dos seus clientes, procurando formas de resolver objetivamente os problemas, sejam eles quais são.

Quando executa uma idéia o criativo é certeiro!

Se observarmos as tantas reclamações e respostas do mercado por um longo tempo, haverá um momento (mágico para as pessoas criativas!) quando uma reclamação simplesmente não será respondida. Quando o mercado fica em silêncio absoluto por alguns segundos antes da enxurrada de problemas iniciar novamente. São estes segundos de silêncio que o criativo procura e escuta com atenção, pois são quase imperceptíveis. Durante este curto tempo pode nascer um problema que importa, que requer solução, talvez não hoje, mas em breve, e para o qual ela ainda não existe. Invariavelmente este problema fica sem respostas pelo simples fato de que neste momento não atrapalha um grupo considerável de pessoas para que valha a pena ser resolvido.

Mas identificar um problema, até mesmo antes que aconteça, e interagir com ele pode significar adiantar-se ao mercado na busca da solução para um empecilho importante no futuro. É neste momento que o criativo torna-se capaz de entrelaçar inovação + solução e surgir com idéias criativas para as necessidades mais simples.

Para isso este criativo reúne uma equipe de pensadores geniais para trabalhar com foco num problema específico, que precisa de uma solução inteligente. É a forma mais produtiva de realizar um brain storm em busca de soluções que o mercado realmente quer ou precisará no futuro.

Note que nesta fórmula o criativo não precisa ser realmente genial. Ele é perspicaz e sua capacidade está em identificar problemas e compreender como filtrar as melhores soluções. Ele não obrigatoriamente cria estas soluções sozinho, este seria o gênio.

O gênio é o Professor Pardal, aquele que utiliza-se de tentativa e erro para encontrar excelentes soluções. O criativo é o atento, que escuta as necessidades com a devida atenção e se cerca de “Professores Pardais geniais” para encontrar as soluções corretas.

Por isso acredito sinceramente que a fórmula para ser criativo não está em aguçar o raciocínio, mas em aguçar os ouvidos.

Afinal, de que adianta ter um monte de idéias malucas se você pode ter um conjunto de idéias objetivas, que realmente precisam de soluções?

E, ao montar uma equipe, tenha certeza de que se preocupou em balancear geniais e criativos, para que cada um atue no lado certo das soluções.

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