domingo, 17 de agosto de 2008

Esse é o espírito!

Aproveitando o ritmo de olimpíadas, vamos abordar um tema bastante influente nas empresas consideradas “modernas”: o espírito esportivo.

Ouve-se muito o termo “vestir a camisa” para ilustrar o sentimento que as empresas desejam desenvolver em seus profissionais, a participação ou o pertencimento àquele ambiente.

Sem dúvida é importante que todos os profissionais sintam-se inseridos no grupo onde depositarão temporariamente seus sonhos e uma parcela considerável de seus esforços. Porém esta febre de integração que invadiu os departamentos de RH e disseminou o amor à causa das empresas por parte dos funcionários desequilibrou dentro deles a balança entre o racional e o emocional.

Atualmente as convenções de vendas, por exemplo, deixam de ser um momento de alinhamento de objetivos da área para tornarem-se reuniões de colegas, onde a empresa inteira se integra, almoça, janta e passeia junta, colocando em cheque a tênue linha entre o pessoal e o profissional.

Para o cenário atual isso parece lógico já que convivemos cada vez mais com nossos colegas de trabalho e menos com nossas famílias. Neste caso um ambiente de trabalho amigável é essencial para o desenvolvimento das atividades de cada profissional, bem como para o bom andamento dos negócios.

Porém surge aí uma relação de dependência muito perigosa entre estes funcionários e as empresas. Para tais profissionais, ela deixou de ser um time para se tornar um segundo lar, um ambiente seguro contra as frustrações, o caminho certo para o sucesso.

Hoje é cada vez mais comum vermos pessoas utilizando como argumento a amizade com chefes e colegas ou a identificação com um cargo na hora de recusar uma proposta de emprego. Vejo no meu trabalho pessoas que recusam vagas excelentes de coordenadoria ou nível gerencial, simplesmente por que acreditam na causa da empresa ou por que não querem deixar o chefe na mão com um novo projeto.

Troca-se aí a racionalidade pela emoção de participar de um grupo. Esquece-se de um detalhe essencial: a empresa é uma instituição construtiva, com projetos que dependem de pessoas para serem realizados, sem dúvida, mas que dependem, invariavelmente, do lucro. Não se trata de uma democracia.

Assim como num time esportivo cada jogador tem que dar o seu melhor, unir esforços em busca de objetivos. Mas também é importante estar ciente de que podem haver substituições, inclusive se surgir alguém melhor preparado para o seu cargo.

Por isso é importante aproveitar as oportunidades e facilidades de que dispomos para incrementar tanto o desempenho na empresa quanto o próprio crescimento. Se seu cargo lhe proporciona fazer um curso de especialização, faça-o, mas sem esquecer de que isso não foi um presente, mas uma necessidade identificada pela empresa para que o trabalho desenvolvido em seu cargo seja cada vez melhor.

Devemos lembrar que um esportista também ganha salário, tanto quanto o médico da equipe, e que ambos serão substituídos um dia. Por este motivo um jogador não deixa de avaliar oportunidades, mesmo jogando num time importante. A paixão é essencial no que se faz, mas o esportista tem amor pelo seu esporte, este é o seu ideal, seu foco, o que dá sentido a todo o esforço e preparo. Quem tem amor pelo time é o torcedor.

A diferença entre pessoas que trabalham com o que amam e as que se condicionam a amar o ambiente no qual trabalham, é que o primeiro grupo é formado por aquelas que confiam no próprio taco e na sua equipe, assim como os jogadores, seja lá onde estiverem. O segundo grupo é o dos torcedores, confinados a um time pelo amor incondicional que sentem por ele. Não há atitude correta, mas o primeiro permite melhores chances de identificar as oportunidades, sejam elas internas ou externas.

Então, ao receber propostas de trabalho interessantes, pense friamente em suas possibilidades de crescimento. Será que a empresa onde você atua investirá tanto em seu desenvolvimento quanto a outra? Os benefícios concedidos realmente superam as expectativas de um salário maior ou a possibilidade de crescimento a curto ou médio prazos? Sejam quais forem as respostas, não deixe de considerar o clima também, já que este é o mérito da atitude acolhedora das empresas que investem no espírito esportivo. Isso também é importante e, na maioria das vezes, trocarmos um chefe parceiro e responsável por um chato ou impaciente não vale à pena nem mesmo com a possibilidade de um salário maior.

Visto isso diremos que é importante fazer um bom trabalho, participar da equipe e ajudar a empresa em seu desenvolvimento? Sim. Porém não perca oportunidades em nome da amizade ou por acreditar que seu trabalho fará falta para a empresa, pois não fará, pelo menos não por muito tempo. Alguém será colocado em seu lugar e, com certo treino, o substituirá de maneira satisfatória. Não acredite que a empresa pensará duas vezes caso um profissional melhor preparado tenha pretensões sobre seu cargo.

É comum dizermos SOU gerente, analista ou diretor, quando na verdade ESTAMOS nestes cargos. Vestir a camisa é válido, mas não devemos fechar as portas para outras possibilidades de forma alguma.

Este pensamento ajuda a perceber melhor as boas propostas, relacionando-se de maneira mais saudável com a vida profissional, dividindo com precisão seus objetivos pessoais dos objetivos que compartilha com sua empresa. Assim como disse Henry Ford, “se há algum segredo do sucesso, consiste na habilidade de aprender o ponto de vista do outro e ver as coisas tão bem pelo ângulo dele, como pelo seu”, sem perder o foco de cada um.

quinta-feira, 7 de agosto de 2008

Boas Intenções

Existe um assunto realmente intrigante para mim em relação ao ambiente profissional: Até onde vai a liberdade de abrir o jogo com os chefes?

Realizei uma pequena pesquisa não científica com os colegas de trabalho sobre como expõe seus questionamentos e suas intenções com os respectivos chefes. As respostas foram as mais variadas, desde “Com meu chefe prefiro não falar dos meus desejos e intenções diretamente. Costumo ir dando indiretas e influenciar meus colegas de trabalho” até “Chefe para mim tem que ser mais que chefe, precisa ser um parceiro de verdade, quase um amigo!”.

A grande maioria das resposta foi o clássico “Escolho o melhor dia para falar com ele. Se o humor estiver bom ou se ele estiver contente comigo tomo coragem para falar sobre promoções e salário, por exemplo”.

Estas três respostas servem para ilustrar o quão diferentes podem ser as formas de se comunicar com um chefe quando o assunto é você. E isso é lógico, pois estamos falando de objetivos e eles são sempre pessoais, por mais que se baseiem num salário maior ou num cargo mais importante, servirão no final das contas para comprar aquele apartamento bacana ou viajar com a família mais vezes durante o ano.

Convenhamos que falar com um chefe sobre salário ou promoção não é algo fácil para a maioria das pessoas e, do meu ponto de vista, isso se deve ao fato de que, apesar de representar a empresa e seus interesses, um chefe também é um ser humano com vontades e ideais próprios, que podem não serem iguais aos nossos. E é aí que reside aquele medo do chefe não achar que você realmente merece um “upgrade” na carreira.

Traduzindo, o que leva as pessoas a NÃO EXPOREM seus desejos para a empresa é o velho medo de ouvir um não exatamente quando achamos que mais merecemos um sim. Frustração imediata.

É... e acontece de uma hora ou outra a resposta ser não. Isso é ruim de ouvir a qualquer momento, nos faz parecer menos competentes do que imaginamos e, principalmente para alguém que já não está muito feliz com o trabalho, pode ser uma bomba catastrófica para a auto-estima.

Procuro ser muito cuidadoso ao expor minha opiniões. Busco as palavras corretas e toda a sensibilidade possível para que não hajam erros de interpretação quando o assunto diz respeito a um desejo meu perante minha vida profissional. Porém, apesar do cuidado, não deixo de expor minhas necessidades de forma clara aos meus superiores. Isso é o que chamo de “liberdade saudável”.

Há uns 8 meses, pouco depois que entrei na área de Informações de Vendas, ocorreu a demissão de um analista do meu departamento, surgindo uma nova vaga para trabalhar com Inteligência de Mercado. Eu havia entrado ha pouco na área, estava começando a aprender bem minhas funções e desenvolver melhor meu trabalho, porém me chamou a atenção esta vaga muito interessante para analista de Inteligência de Mercado.
Não tive dúvida, chamei minha chefe para o famoso café e comentei com ela que tinha interesse em atuar futuramente nesta outra área. Deixei claro que gostaria muito de contar com a ajuda dela neste objetivo. Afirmei que apreciava negociação e que essa experiência poderia ser muito produtiva para meu futuro.

Para quem acredita que tomei coragem baseado apenas na minha auto-estima está muito enganado. Apesar do pouco tempo atuando na área, meu trabalho vinha sendo observado pelos gestores e minha chefe e eu já havíamos conquistado tal relacionamento profissional que permitia abertura para falar a respeito de nossas expectativas em relação ao relacionamento chefe-subordinado tanto quanto profissionais-empresa.

O relacionamento profissional com o chefe deve gerar confiança o suficiente para que haja parceria. Nesse caso será possível alinhar expectativas e direcionar o trabalho de ambos além dos objetivos comuns gerados pela empresa. Para mim essa é a verdadeira sinergia de uma equipe.

O resultado imediato foi o bom e velho não. Ele não veio da minha chefe, mas da própria gestora de Inteligência de Mercado que afirmou estar em busca de alguém com bastante experiência e contato com o mercado.
Agradeci a ajuda da minha chefe, que realmente expôs com muito tato minhas expectativas aos demais gestores, assimilei aquilo como uma oportunidade de expor melhor meu próprio plano profissional e continuei a desempenhar meu trabalho em Informações de Vendas com a mesma energia de antes.

Nesta última semana, quase 6 meses depois do ocorrido, fui chamado pela gestora de Inteligência de Mercado para trabalhar no seu grupo.

É claro que contei com uma parcela de sorte em relação à abertura da vaga e ao fato de minha chefe ser muito atenta não apenas à cobrança de resultados, mas também a ajudar seus colegas a alcançar seus objetivos. Tenho certeza de que a clareza deste objetivo específico na mente de todos os gestores do departamento permitiu que essa sorte soprasse os bons ventos a meu favor.

Não existe uma fórmula mágica para conquistar os objetivos e, se houver, não a conheço. Porém permitir que as pessoas que trabalham com você compreendam alguns de seus objetivos com clareza pode ser uma mão na roda no momento de decisões sobre vagas ou promoções.

Pode ser que essa forma de pensar já tenha ajudado alguém a me fazer comer poeira? Sim, com certeza já aconteceu. Porém venho procurando um equilíbrio que permita divulgar o máximo das minhas expectativas aos parceiros, abrindo o mínimo possível minhas estratégias para os concorrentes.
Se alguém souber como fazê-lo de forma eficiente, por favor me conte!

Até lá, como já diria um dos diretores que passou aqui pela empresa: “Na dúvida tente! O não você já tem garantido, mas só terá chances de ouvir que sim se tentar”.