segunda-feira, 30 de junho de 2008

A interface do usuário

Há alguns anos passamos pela bolha da internet, pela era da comunicação global, a explosão das empresas “pontocom”, o surgimento da telefonia digital e ao constante aumento do fluxo das informações.

Todas estas etapas nos renderam duas eras importantes: A da expansão tecnológica do hardware, iniciada com o advento do PC (Personal Computer) e, posteriormente, a guerra dos softwares, quando as empresas especializadas lutavam entre si para estabelecer suas soluções e interfaces como os padrões mundiais da nova comunicação.

Assistimos a todos estes acontecimentos no decorrer de aproximadamente 5 décadas em âmbito mundial e praticamente 2 décadas no Brasil.
Isso resulta em menos de duas gerações humanas que já passaram por mais de dez dezenas de gerações de softwares, constantemente atualizados em computadores que, por sua vez, são trocados a cada dois ou três anos, quando ficam obsoletos.

Muitos autores já escreveram sobre esta corrida da informação contra o tempo, porém percebi atualmente que avançamos para outro estágio: o do desenvolvimento da “interface do usuário”.

Trabalho atualmente na indústria farmacêutica em uma empresa multinacional alemã, extremamente ligada às inovações tecnológicas. Ou pelo menos tentamos, como tantas outras, manter um padrão avançado nesta área.
Foi observando esta necessidade de ajustes constantes dos sistemas de informação que notei há algum tempo um movimento muito peculiar de toda a indústria (e aí não apenas a farmacêutica) em busca de um novo padrão de desenvolvimento que transcende a atualização dos equipamentos e suas interfaces virtuais, buscando usuários que conectam, processam e adaptam-se melhor às novas interfaces da informação.

Esta guerra iniciou-se há tempos, porém as discussões a respeito das dificuldades de comunicação entre os sábios profissionais da Geração X e os modernos da Geração Y acenderam o farol verde para a busca por profissionais capazes de integrar estas duas unidades, que não se identificam ou nem ao menos se comunicam.

Para entender melhor o problema, basta lembrar que as pessoas da Geração X nasceram numa época em que o segredo era a alma do negócio, passaram pela guerra fria que abalou o mundo e pela ditadura militar no Brasil, enquanto a geração seguinte, a geração Y, ganhou celulares de presente de natal e aprendeu que ser transparente e ter a mente aberta é a melhor forma de lutar contra o preconceito e, paradoxalmente, teme perder sua individualidade.

Dentre as principais características dos Gestores Modernos estão a capacidade de integrar estas duas (ou três) gerações, compreender as informações disseminadas por ambas e traduzi-las para uma linguagem universal, permitindo a estas cabeças tão diferentes buscar objetivos pessoais comuns e de interesse para as organizações. Este profissional realmente representa para mim a imagem do Gestor Moderno, que possui características muito mais próximas à de um facilitador do que do chefe tradicional, como já citado aqui no Blog, no texto “O Ovo”.

São estes profissionais quem vêm conquistando as vagas estratégicas das empresas, roubando uma importante fatia das vagas de gestão que até pouco tempo pertenciam apenas à Geração X, o que explica a crescente dificuldade destes profissionais em se recolocar no mercado quando são dispensados pelas empresas. É comum colocar a culpa na idade avançada e no curto período de vida profissional dos executivos, porém acredito que esta nova característica necessária aos cargos de gestão explica grande parte do problema de colocação da Geração X.

O Gestor Moderno facilita a comunicação entre seus subordinados e também ajuda a sua área a compreender melhor as informações vindas de outros ambientes da empresa. Com estas características os líderes também possuem muito mais chances de sucesso em seus projetos, dividindo seus esforços entre o relacionamento de seus integrantes e a busca de objetivos da equipe.

Por isso cabem aqui duas perguntas para reflexão: Os funcionários da sua empresa ou área compreendem e interagem com as informações de forma estruturada e organizada ou necessitam de alguém que faça a “ponte” entre eles e suas informações?

Como exemplo, vemos a dificuldade que agências de propaganda e marketing possuem em compreender a necessidade de seus clientes. Talvez seja uma boa idéia conhecer os mecanismos que elas e os prestadores de serviços em geral utilizam para compreender e sintetizar tantas linguagens diferentes, que geralmente resultam em objetivos muito parecidos.

E a outra pergunta é: Como profissional, em qual perfil você se encaixa: Geração X, Geração Y ou Gestor Moderno?

É indiscutível a importância dos três perfis no ambiente dos negócios, porém vale a pena sondar mais profundamente nossas características para, caso a resposta não seja Gestor Moderno, policiar sua comunicação e procurar aprender a forma correta de interpretar os colegas e de transmitir de forma facilitada suas informações.

Esta pode ser a diferença entre ser um “Geração X” obsoleto, um “Geração Y” incompreendido, ou alguém capaz de evitar conflitos no trabalho, tornando-se realmente eficaz na busca pelos objetivos e na coordenação de equipes com essa mistura tão heterogênea de profissionais.

terça-feira, 10 de junho de 2008

No Trânsito da Informação

Enviar, receber, receber e enviar informações. Este é o dia a dia dos executivos modernos pelo mundo.

É comum ouvirmos reclamações a respeito do imenso número de informações com que lidamos todos os dias. Temos a impressão de que estamos atrasados todo tempo, pois antes mesmo de chegarmos ao escritório já existem dezenas de e-mails no correio-eletrônico e outra dezena de mensagens na caixa postal, fora os recados do chefe e os papeizinhos sobre a mesa.

Nada realmente novo sobre o assunto. Esse é o momento que vivemos, com o tráfego de informações em sua forma mais dinâmica, aprimorando-se a cada segundo. Porém, como fazer para o trânsito da informação não se transformar num engarrafamento?

Um bom começo é refletir sobre a real função da informação. É importante ter em mente que elas são ferramentas, não objetivos. Por isso, checar e-mails e torpedos no celular a cada 5 minutos está fora de cogitação. Preferir enviar uma mensagem escrita para explicar algo que pode ser resolvido em menos de 2 minutos pelo telefone nem pensar!

Outro um colega do trabalho me falou sobre uma clínica de desintoxicação para usuários do BlackBerry. É sério! As pessoas se internam para “reaprender” a viver sem o aparelho.

É por essas e por outras que vale à pena seguir algumas dicas para não se perder nesse lado obscuro da modernidade.

Em primeiro lugar, ao receber informações, classifique-as nestes três grupos:

1-) Informações essenciais: São aquelas que possuem maior relevância para a conclusão de algum objetivo. Dados que precisam ser analisados para um relatório importante, que serão utilizadas numa negociação ou das quais outras pessoas dependem para resolver um problema que influencie o andamento de um projeto. Elas servem basicamente para a tomada de decisões.

Para trabalhar estas informações, perca algum tempo. Ao recebê-las, consulte outras fontes para certificar-se de sua veracidade, colha opiniões e reflita sobre elas, pois provavelmente se tornarão muito eficientes na solução de problemas ou tomada de decisções. Essas são as informações com as quais devemos desprender mais tempo e dedicação.


2-) Informações para conhecimento: Ao receber uma informação para conhecimento você irá armazená-la para uso futuro ou apenas por interesse pessoal. São informações importantes, mas que não precisam ser divulgadas ou que não são essenciais para o andamento de projetos ou para alcançar objetivos imediatos.

Esse tipo de informação é muito parecida com aquela que recebemos durante os estudos ou em momentos de lazer. Podem não ser necessárias imediatamente mas ajudarão na formulação de alguma idéia, a responder uma pergunta importante à médio ou longo prazos ou simplesmente conquistar satisfação pessoal. A melhor solução para elas é armazenar.
Algumas pessoas utilizam agendas, outras preferem salvar num pendrive ou até escrever num papelzinho que ficará pendurado em algum lugar, mas o importante é não ocupar espaço na sua cabeça, pois tratam-se de informações mais detalhadas que merecem mais cuidado para não serem esquecidas. Ao armazená-las, faça de maneira prática e que seja fácil para acessar quando necessário. De nada vale um bom livro se fica guardado no fundo da estante... e isso serve para e-mails, atas de reuniões e planilhas do Excel também.

3-) Informações corriqueiras: As informações trocadas no dia a dia e que não precisam ser armazenadas ou processada, pois você é capaz de dar uma solução imediata para elas. Não necessitam de um fluxo para se transformarem numa ação, pois sua função é imediata. Nesse grupo consideramos aqueles e-mails que podem ser respondidos sem consultar qualquer outra fonte ou assuntos que podem ser resolvidos com um telefonema. Resumindo, são informações sobre as quais você tem total autonomia para responder sem consultar outras fontes.

Livre-se delas assim que possível! Estas informações devem respeitar a velocidade e fluidez com que chegam até você. Para isso não é necessário tomar todas as decisões imediatamente, pelo contrário, o ideal é descartar ou delegar para alguém sempre que possível. Sua mente deve ter muito espaço para tomar decisões importantes e isso não deve ser atrapalhado por um mundo de pequenos problemas. Resolva-os da forma mais veloz. Para isso, esqueça a arte de enviar um e-mail de 50 linhas para responder ao famoso “Onde vamos almoçar hoje?”. Seja rápido, direto e quando não tiver uma resposta simples peça para seu colega escolher, delegue.

Agora que já organizamos as informações recebidas, o assunto é transmitir. Nesse caso a coisa muda de figura.

É natural imaginar que devemos distribuir informações com melhor qualidade do que quando as recebemos. Esse é o ideal, mas não obrigatóriamente ela tem que sair em maior quantidade ou ser enviada para diversas pessoas ao mesmo tempo!

Para transmitir informações de maneira objetiva e eficaz, utilize os seguintes critérios:

1-) Qualifique a informação: Ao recebe-la, avalie seu grau de importância como Essencial, Para Conhecimento ou Corriqueira. Será que esta informação merece mesmo mais do que 5 minutos de atenção? É importante o suficiente para que eu perca meu tempo escrevendo um comunicado ou pode ser transmitida por telefone em menos de 2 minutos para quem realmente precisa dela?

2-) Defina a utilidade da informação: Isso o ajudará a identificar quem serão as pessoas certas para recebê-la e a evitar gasto de energia na hora de formulá-la. Será mesmo útil enviar esta informação para meu colega? Antes de escrever um relatório sobre o desempenho da empresa não seria melhor perguntar se o destinatário não possui estes dados ou se o departamento financeiro não tem um relatório pronto?
Para esta etapa vale também a regra de classificação: Essencial, Para Conhecimento e Corriqueira. Nesta mesma ordem, o gasto de energia que você deve ter para com sua produção e envio seguirá os mesmo critérios do recebimento.

3-) Selecione o público: Enviar um informação para todos esperando atingir quem realmente precisa recebê-la não é inteligente e deteriora sua credibilidade. Primeiramente analise quem são as pessoas que realmente necessitam ou que transmitirão os dados para grupos e equipes que poderão aproveitá-la, tornando-a mais efetiva. Isso também valoriza o seu trabalho, já que as pessoas que o receberem terão real interesse e darão continuidade ao seu esforço.

4-) Priorize os fatos: Não espere que seus colegas leiam um e-mail ou comunicado com mais de dez linhas sobre algo muito simples e fiquem felizes com isso. Explicações muito longas implicam em falta de tempo e paciência para a leitura. Tenha sempre em mente que priorizando os fatos é mais fácil evitar erros. Seja por e-mail, telefone ou numa propaganda de televisão, a atenção das pessoas diminui ao longo do tempo. Logo, é importante priorizar os fatos e escrever da forma mais sucinta possível.

A dica de ouro para trabalhar com as informações é muito simples: tenha respeito pelo próximo.

Parece simples demais, mas aplicar as regras da educação para o trânsito das informações é a forma mais segura de evitar desentendimentos, chateações, invasão e perda do tempo alheio.
Trate com cuidado suas palavras, pois cada informação que sai de suas mãos leva consigo a responsabilidade de representar suas idéias. Por isso, o histórico de um simples e-mail contendo uma grande bobagem escrita por outra pessoa passa a ser também de sua responsabilidade à partir do momento que você passa esta informação para frente.

Zele pela sua imagem, tenha cuidado com suas palavras e torne-se dono se sua própria história. Já dizia Thomas Jefferson numa de suas citações de que mais gosto: “Um dos talentos mais valiosos que existe é o de nunca usar duas palavras quando basta uma”.

sexta-feira, 6 de junho de 2008

Marketing Pessoal X Supervalorização

Não é incomum ouvirmos profissionais gabaritados dizerem que o sucesso depende de excelente qualificação, bom planejamento de carreira, capacidade de liderança e, dentre outra dezena de características, uma boa dose de marketing pessoal.

É visível a capacidade que algumas pessoas têm de escalar cargos com rapidez quando dependem do relacionamento. Porém é importante colocar que esta característica é apenas um complemento para todas as outras. Sem a qualidade técnica e a confiabilidade não há marketing pessoal que sustente uma carreira.

É comum ouvir alguém que não se considera um bom “marketeiro pessoal” resmungando a respeito da auto-promoção de outras pessoas. Há alguns dias atrás escutei:

“Ontem recebi um e-mail gigantesco do fulano sobre uma ação implantada na área de eventos. Era incrível a forma como tudo estava escrito! Metade do e-mail contava uma história sobre todos os problemas que existiam antes desta ação. A outra metade descrevia a implantação em tom de batalha, com todos os benefícios trazidos para a empresa. E este e-mail foi copiado para mais da metade dos funcionários.
O detalhe mais interessante é que esta ação se resumia à criação de uma planilha padrão de acompanhamento de eventos...”

O caso acima citado é muito confundido com o Marketing Pessoal, porém seu nome correto é Supervalorização.

Engana-se quem pensa que esse tipo de atitude beneficia a carreira. O fato é que o marketing pessoal não deixa de ser marketing, o que significa que a eficácia da informação depende muito mais da sua qualidade do que da quantidade.

Num ponto de vista muito pessoal, entendo a supervalorização como uma característica própria das pessoas que não confiam completamente em seus conhecimentos ou desconhecem seus objetivos. A promoção de objetivos superficiais (supervalorização) distrai quem não compreende ou não têm real interesse sobre o assunto supervalorizado, porém, para quem possui conhecimento a respeito, a atitude pode resultar na perda da credibilidade.

Pessoas que procuram motivos para aparecer demais e agem como “estrelas” se auto-promovendo todo o tempo, esquecem que também estão expondo à todos seus defeitos e sua vulnerabilidade. O problema é que ao fazê-lo, estas características são compreendida e julgadas tanto por pessoas que acreditam quanto por pessoas que duvidam ou concorrem com estas “estrelas”.

Diria o publicitário Chuck Lieppe: “Aparentar ter competência é tão importante quanto a própria competência”. Porém vale lembrar que a afirmação aponta também a interdependência das coisas e que o perigo à longo prazo é de que a aparência nunca deixará de ser uma suposição, enquanto a necessidade de competência sempre será um fato.

Por todos esses motivos, o marketing pessoal está intimamente ligado à duas coisas: Foco no resultado pretendido e critério para definir o que precisa ser destacado.

Para ajudar a compreender melhor a gestão do marketing pessoal, seguem algumas regras de ouro que gosto de seguir:

1-) Cuide da embalagem
Apesar da aparência não ser obrigatoriamente o reflexo de sua competência, ela abre muitas portas para que as pessoas se interessem pelo seu conteúdo. Apesar de um pouco cruéis as comparações são inevitáveis e pessoas saudáveis, educadas e preocupadas consigo transmitem muito mais segurança e confiabilidade.

2-) Desenvolva o conteúdo
Preocupar-se com a aparência é importante, mas fundamental mesmo é absorver conteúdo compatível com o objetivo pretendido. Se você pretende apostar no marketing pessoal para subir de cargo, por exemplo, certifique-se de que está apto a desenvolver as atribuições relativas a ele. Será que você já estudou e colocou a mão na massa o suficiente para executar as tarefas dessa nova vaga?

3-) Tenha atitude
Já ouviu dizer que ela vale por mil palavras? Pois é verdade. Ter atitude não significa assumir a dianteira todo tempo, mas saber fazê-lo quando for a hora. É importante ressaltar que quando se fizer necessário tomar uma atitude ou expor uma idéia, a humildade deve ajudá-lo a manter o equilíbrio em relação aos outros tanto quanto consigo. Isso também ajuda a evitar a famigerada supervalorização.

4-) Seja ético, autêntico e transparente
Independente do marketing pessoal, estas características devem acompanhá-lo todo tempo na busca por seus objetivos. Porém a chave para vender-se melhor é despertar nas pessoas a confiança, e ela só pode ser conquistada quando estas três características são plenamente associadas à sua imagem.

5-) Avalie o tempo e o ambiente
Antes de investir pesado na sua imagem, avalie se é a hora correta para vender seu peixe e se ele está desenvolvido o suficiente para ser vendido.
Comece questionando-se sobre sua maturidade: Você e seu trabalho estão maduros o suficiente para um próximo passo?
Certifique-se de que o ambiente e as pessoas estão dispostas a receber suas idéias, ou se é necessário conquistar mais confiança para isso.
Por último, certifique-se de que os objetivos anteriores foram atingidos. Em caso positivo, esta é a hora certa para formular novos. Caso contrário será necessário colocar um pouco mais a mão na massa para resolver as pendências pessoais.

Vale recordar que usar o marketing pessoal para se promover é bem diferente de querer aparecer mais. A bem da verdade, quem pensa em auto-promoção precisa passar por todas as etapas acima para identificar a real necessidade disso para seu crescimento imediato ou para o futuro profissional.

O marketing pessoal deve ser aplicado para promover apenas os conhecimentos e vantagens que você já possui, nunca para maquiar defeitos ou correr atrás de prejuízos, pois o produto final deve ser sempre a credibilidade.